WandaVision: A Negação do Luto
- Gustavo Zancheta
- 18 de mar. de 2021
- 2 min de leitura
A série WandaVision, sucesso de público e crítica da Disney+, se passa após o filme Vingadores: Ultimato e mostra a personagem Wanda Maximoff criando uma realidade idealizada com o uso de seus poderes. Nesta nova realidade imaginária - moldada como uma sitcom dos anos 50 -, Wanda cria uma cidade chamada Westview, aprisiona mentalmente seus habitantes e traz de volta à vida seu marido e grande amor, o sintozóide Visão, morto anteriormente nos eventos mostrados no último filme dos Vingadores. O grande pano de fundo da série é como a dor da perda pode gerar ações extremadas e suas consequências inevitáveis.
É importante refletirmos sobre como todos nós estamos suscetíveis a tomar atitudes impensadas diante de uma grande perda, especialmente quando esta perda se trata de um grande amor. A literatura ensina que o luto se subdivide em 5 fases, subsequentes e que podem se sobrepor, a saber: Negação, Raiva, Negociação ou Barganha, Depressão e Aceitação. A vivência saudável do luto compreende que todos estes estágios devem ser superados necessariamente.
Porém, o que acontece quando a vivência do luto é simplesmente paralisada no primeiro estágio, a Negação?
Negar a partida de um ente querido é simplesmente não aceitar que tal fato ocorreu, direcionando seu olhar e pensamentos para outros eventos, evitando encarar a realidade. A dor da perda justifica tal postura e o simples fato de imaginar a vida sem a companhia da pessoa amada se torna algo profundamente perturbador. É o medo de encarar essa dor que faz com que busquemos alternativas minimamente viáveis para continuarmos a (sobre)viver.
E é justamente nesse cenário de dor e negação que as criações mentais surgem, nos levando para novas realidades em que a perda não se faz presente. Nessas projeções mentais, normalmente só existe espaço para prazer e felicidade e o mundo é um local amistoso.
E afinal, quem de nós nunca cedeu à tentação de fugir para mundos imaginários quando colocados à frente de uma grande perda? E por isso mesmo, quem pode julgar e condenar a personagem Wanda por ter feito o mesmo ao perder seu marido? É claro que proporções devem ser resguardadas, mas mais uma vez a ficção retratou a realidade de maneira poética e fantástica.
E a tal série nos faz refletir, finalmente: temos a obrigação de vivenciar de maneira saudável os inúmeros lutos que nos ocorrerão nesta existência, mas, sinceramente, quem de nós não cederia à tentação de, caso possível fosse, criar toda uma nova realidade para desfrutar de, ao menos, alguns breves momentos junto da pessoa amada?
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